sábado, 18 de fevereiro de 2012

O post é enorme, mas é de coração


Eu não sei por quanto tempo vou durar, por isso gostaria muito de deixar ao mundo um filho ou filha, que fossem alguém de valor. Mas eu penso que ter um filho ou filha para que este seja alguém de valor uma coisa extremamente egoísta e futuramente frustrante. Pois, o que é valor? Veja bem, os meus pais e familiares tem essa expectativa de que algum dia eu volte a ser “alguém de valor”, de acordo o que eles acreditam sobre o termo. Eles tinham uma expectativa sobre mim e durante muito tempo eu fui a eles alguém  valoroso. Eu não apenas frustrei a expectativa deles, eu os frustrei quando eles pensavam que o trabalho sobre me tornar uma pessoa valorosa tinha acabado. Eu simplesmente, na cabeça deles, dei um salto para trás em todo um processo evolutivo que eles estabeleceram para me ver transformada em uma pessoa valorosa. Então quando parecíamos estar estabelecidos e tudo acabado. Eles olhavam para o protótipo de jovem perfeita que eu me tornei e diziam “ Finalmente conseguimos concluir os nossos experimentos e com sucesso”. Eles não sabiam sobre como eu me sentia a meu próprio respeito e como me sentia incompleta, perdida e em dúvida sobre qual caminho seguir  e sobre quem eu era de fato.
Então eu fui mais forte que eu mesma e me venci. A minha vontade de mudar e ser verdadeira era de certa forma maior que a minha vontade de agradar as pessoas. Não é ruim querer agradar quem te ama e cuida de você. O errado é fingir ser outra pessoa para manter esse conforto que o amor proporciona. É tão bom ser querida pelas pessoas que a gente mais ama. Mas eu não consegui ceder até o final... sei lá.
Não sei ainda se perdi ou ganhei alguma coisa com isso. Prefiro acreditar que apenas mudei porque era o coerente a ser feito e que poderia estar bem nos dois modos de vida.
Só sei que eu não fui a filha que esperavam que eu fosse. Isso foi doloroso para mim e para os que criaram expectativas sobre mim também. Não sei se as pessoas disfarçam ou se realmente não sentem tanto as coisas como eu. Mas só sei que minha dor é enorme e a confusão na minha cabeça ainda também é.
Nessas horas eu penso que não é justo ter um filho para realizar um desejo meu porque ele pode, como eu, depois sofrer bastante, mesmo eu tendo escolhido fazê-lo feliz.

Acho essa relação pais e filhos muito complicada e ás vezes exige posturas egoístas de alguma das partes. Por exemplo, o filho sempre querer o apoio e admiração incondicional dos pais, ou os pais tentarem alienar o pensamento dos filhos aos seus ideais. Não que eles estejam necessariamente errados. Se trata de relacionamento humano e sempre vão existir coisas ruins e dificuldades, assim como coisas bonitas e positivas. Mas não me agrada a maneira da maioria das sociedades humanas, que já ouvi falar, tratar desse tema “relacionamento entre pais e filhos”. Parece que as pessoas esquecem que o nascimento de uma criança é também uma categoria simplesmente animal. Sim, o homem e a mulher são animais, como qualquer outro. Ter um filho, nem sempre vai ser um acontecimento recheado de emoção humana e significados. Tecnicamente ter um filho é igualzinho a ter um filhote, se é que me entendem. Se você fica emocionado (a) por isso é apenas porque você é um ser teleológico, ou seja premedita as suas ações, coisa que um cachorrinho não faz. Por isso que a depender do estado da fêmea (cadela) ela pode até comer os próprios filhotes. O cuidado que a cadela e a fêmea humana tem com o seu bebê não é transcendental, mágico, “amor de mãe não tem igual, etc, é meramente instinto biológico . “Mas eu amo meu filho mais do que tudo na vida”, claro como eu disse você sente as emoções, porque acontecem reações químicas no seu cérebro e como alguém que consegue premeditar e direcionar a própria ação, você consegue direcionar a intenção dos seus sentimentos também e optar dar um valor excepcional a isso.
No fim das contas, é bonito ver as mães e o pais amando os filhos. O que eu não gosto é que em muitas sociedades esse amor é superestimado, obrigando pais e filhos assumirem responsabilidades uns com os outros sacrificantes. Eu acredito que é aí que é gerado os conflitos entre pais e filhos. Os pais se sentem obrigados a trabalhar muito, abdicam de sonhos, adquirem cada vez mais despesas, tem que se obrigar a uma tarefa incansável de educar e ás vezes até passam dos limites ao tentar tornar os filhos esse “alguém de valor” que falei no inicio do texto. Por sua vez, os filhos crescem tendo sonhos, expectativas e em um dado momento de transição para a vida adulta podem descobrir que os seus anseios não estavam nos planos dos seus tutores. Alguns dos filhos se impõem quando há repressão, outros se anulam, outros acabam sendo influenciados e mudam seu pensamento sobre suas próprias escolhas.
Eu sei que há exceções e relacionamentos diferentes entre pais e filhos. Mas ouço até dos mais liberais “meu filho não vai fazer isso. Meu filho vai ouvir aquilo”. Isso não é  a mesma coisa que pais mais tradicionais fazem? Deve ser muito difícil cuidar de alguém a vida toda e se esvaziar de expectativas sobre ele. Mas eu acredito que se meus pais tivessem tentado eu seria mais feliz e eles também.
Por fim, na nossa sociedade ainda há toda uma mística sobre a mãe, como se ela fosse um ser quase espiritual e devesse suportar tudo, agüentar tudo em nome desse amor incondicional. É uma responsabilidade enorme sobre as mulheres, que eu não quero ter. Acredito que as fêmeas, de todas as espécies, ficam com a parte mais difícil que é carregar o filhote dentro de si, sofrer todas as alterações decorrentes do fenômeno da gravidez e ainda parir. Deveriam nos dar um desconto no que se refere ao cuidado. Infelizmente, até os meus amigos mais liberais não se responsabilizam pela cria. Não basta a mulher sentir toda a mudança do corpo durante a gravidez e depois dela, todo o mal estar e o passar pelo parto, ela ainda tem que cuidar. Pois acreditam que isso é função dela.
Mas isso é assunto para outra conversa. Por enquanto eu gostaria apenas de contar que em visita a uma tribo no ano passado, eu me incomodei com as crianças soltas, correndo e ninguém nunca sabia dizer quem era o pai ou  a mãe. Então meu professor me alertou que a tribo tinha em sua matriz cultural a crença de que os filhos que nascem são da tribo. Isso quer dizer que a responsabilidade sobre elas é de todos e não apenas de quem gera. Para eles os pais já cumpriram a sua função que foi de trazer a criança à vida, agora ela precisa ser cuidada por todos. Acho esse um pensamento bem menos egoísta e que talvez gere bem menos conflitos do que esse super amor e altruísmo dos pais na nossa sociedade.

2 comentários: