domingo, 8 de abril de 2012

Sobre a 'Sessão da Tarde' e a minha sexualidade

Kassandra Petterson,  Elvira - A rainha das trevas- , já povoou o imaginário sexual de muitas crianças às 3 horas de tardes inocentes na frente da televisão. O filme homônimo sobre esse mundo dos bruxos  era muito mais audacioso que Harry Potter e essas películas recentes que falam sobre bruxaria, vampiros, etc.  Elvira transpirava sensualidade e lembrem-se esse filme era assistido por crianças. A figura da Elvira, por si só, é um forte apelo  sexual. Mas a famosa cena onde ela gira os peitos (vide fim do post)  era o auge para a garotada que estava assistindo. Lá estava Kassandra contribuindo para a descoberta (alguns dirão precoce) da nossa sexualidade.
Eu também estava lá assistindo e apesar de odiar filmes de terror adorava "Elvira, a rainha das trevas". Na época eu não sabia bem o porquê. Pois apesar de muito precocemente as minhas brincadeiras com as barbies da minha prima ser sempre sobre sexo, eu conhecia apenas modelos heteros de relacionamento amoroso e relações sexuais. Quando se comentava sobre homossexualismo na minha família era alguma piadinha, onde se concluía que aquilo era uma anomalia ridícula. Eu já me sentia diferente demais para querer pensar sobre mais essa característica excludente sendo parte de mim. A sorte é que sempre me interessei por meninos também. Então eu preferi focar neles, até que eu ignorei completamente o 'interesse' por mulheres.
Mas voltando a "Sessão da tarde", a Elvira e aqueles peitos enormes e lindos dela me causavam uma estranheza e ao mesmo tempo eu não queria parar de olhar. Eu realmente ficava fascinada com aquilo e queria muito poder tocá-los. Mas isso durava durante o filme, quando acabava eu sentia um tanto de nojo. Na próxima vez que o filme passasse na tv eu esqueceria do nojo e estaria lá para assistir. Eu tinha por volta de 7 a 10 anos de idade nessa época e já me apaixonava platonicamente por alguns meninos. 
Durante muito tempo o corpo feminino chamou muito a minha atenção, de uma maneira que eu chegava a temer que aquilo pudesse ser excitação. Então qualquer ocasião em que eu estivesse em frente com uma imagem erótica feminina eu rapidamente desviava o olhar, fechava a revista, saia do lugar e ás vezes ficava aborrecida. Aquelas mulheres estavam me provocando de alguma maneira e eu não gostava daquilo. Alguém pode me dizer " Ah Bonnie, isso é normal. Você só estava as achando bonitas." Eu usei essa desculpa para mim mesma muitas vezes. Mas hoje eu sei muito claramente que o que eu sentia era tesão, excitação. " Mas era porque você estava olhando um imagem erótica e ficava se imaginando daquele jeito." Sim, também já usei essa desculpa. Mas não era isso. Hoje eu tenho maturidade (e coragem) de admitir que eu me sentia atraída por aquelas mulheres e que aquelas imagens me chamavam atenção por ser mulheres que se exponham ali.
É justamente por conta dessa maturidade e por deixar de lado muitos preconceitos, que até bem recentemente me acompanhavam, que hoje eu posso olhar para trás, identificar o motivo de eu não conseguir enxergar certas coisas a meu próprio respeito, sobre minha própria sexualidade.
Quando eu me desvencilhei dos conceitos cristãos de acordo os quais fui educada- e eu cito a religião puramente por minha experiência pessoal com ela ser um divisor de águas na minha vida- me senti mais livre para ir questionando o motivo de persistir o medo de que eu fosse homossexual ou bissexual. Porque  maioria das pessoas que eu conhecia eram preconceituosos, homossexuais ou héteros que não tinham grilo ou medo de contato físico com pessoas do mesmo sexo. As minhas amigas se tocavam, beijavam, abraçavam e eu era carinhosa mas sempre com receio e ouvia diversas vezes que eu nem olhava nos olhos delas. Mas faz pouco tempo que eu entendi que na verdade eu tinha medo desse contato fazer com que me sentisse atraída por elas. Eu sempre achava que uma boca de uma amiga muito perto da minha poderia acabar em um beijo na boca, e eu não via as outras meninas preocupadas com isso. Então eu optei por me afirmar como hetero, mesmo quando já me achava livre de preconceitos com relação a sexualidade alheia. 
Até o ano passado eu tinha várias informações teóricas sobre diversidade sexual e  acreditava piamente nelas. Mas na verdade eu não queria pensar que eu era um elemento dessa diversidade, que fazia parte de uma "minoria".  Não sei bem quando, mas um dia desses atrás eu comecei a questionar muito essa minha defensiva que era mascarada por " Eu sou a hétero legal, que apóia a causa gay".  Não que essas pessoas "héteros que militam pelos direitos dos gays" não existam. Mas no meu caso muitas vezes foi uma máscara.
Hoje eu penso que eu- como qualquer um- posso me apaixonar  por qualquer pessoa ou me sentir atraída sexualmente por qualquer pessoa (ou as duas coisas ao mesmo tempo). Pois pessoas são pessoas e  sempre podem ser interessantes, engraçadas, sensuais, inteligentes, etc. Há um universo de possibilidades à minha frente e é o que eu quero aproveitar nesse momento. Mas tudo pode mudar, tudo sempre muda e eu gosto disso desde que me entendo por gente. Essa é a certeza que realmente interessa permanecer.


"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."



Fiquem com Elvira e a famosa " dança dos peitos"

2 comentários:

  1. Curti o texto e me identifiquei muito com a parte final (Pois pessoas são pessoas e sempre podem ser interessantes, engraçadas, sensuais, inteligentes, etc. Há um universo de possibilidades à minha frente e é o que eu quero aproveitar nesse momento).
    E deu até vontade de assistir Elvira ;DDD

    ResponderExcluir
  2. Gente, Elvira! Adoro quando ela dança ao som de "she's a maniac, maniac on the floor."

    ResponderExcluir